Tem uma passagem bíblica, lá no Evangelho de João, capítulo 6, versículo 68, em que os discípulos de Jesus dizem: “Para onde iremos, se só tu tens a palavra da vida eterna?” Me permitam utilizar este trecho como exemplo para o raciocínio que vem a seguir.
Esta semana, o deputado federal João Leão afirmou que o prefeito de Jequié, Zé Cocá, que é do mesmo partido que o decano, iria permanecer na sigla e seguiria um caminho diferente do governador Jerônimo Rodrigues nas eleições de 2026, apoiando, assim, a candidatura do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto.
Utilizando o versículo bíblico do início, eu digo: Para onde Cocá vai, se só o governador tem a máquina na mão e o apoio de grandes partidos e lideranças do estado? É fato que Zé Cocá não votou em Jerônimo em 2022 e nem fez campanha para ele. Preferiu seguir o PP e apoiar a candidatura de ACM Neto, que foi derrotado pelo atual governador, mesmo com todas as pesquisas apontando vitória do candidato opositor ainda no primeiro turno. Jerônimo venceu e segue com gás para renovar o seu mandato à frente do comando do Estado por mais quatro anos.
No primeiro mandato, Cocá contou com o aporte financeiro das emendas dos parlamentares aliados, algo que já não foi possível neste segundo mandato. Com isso, veio a necessidade de procurar o Governo do Estado para poder seguir com as obras estruturantes no município, como as que têm sido anunciadas nas visitas recentes que o chefe do executivo estadual fez à cidade. Na entrevista concedida na última sexta-feira, 25, ao jornalismo da 95 FM, Leão afirmou que o prefeito não sairá do partido e que marchará ao lado daqueles que estão trabalhando pela eleição de ACM Neto.
A partir dessa afirmação do ex-governador da Bahia, surge um questionamento que ressoa nos bastidores políticos locais: Será que Zé Cocá, que, nas palavras do próprio João Leão, tem cuidado dos jequieenses, iria abandonar a parceria que tem sido benéfica mutuamente para Jerônimo e para a cidade de Jequié? Iria abandonar a parceria em troca de uma ilusão que é a eleição de um candidato opositor ao Governo do Estado?
Se essa pergunta fosse feita há um mês, eu diria que era uma possibilidade grande, já que o principal cabo eleitoral de Jerônimo é o presidente Lula. Lula estava “nas cordas”, por assim dizer, com sua popularidade em queda e muitos atritos com o Congresso Nacional, minando ainda mais o seu mandato. Com o ataque à soberania do Brasil por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a popularidade de Lula voltou a crescer, e ele já colhe os frutos disso, vendo a popularidade de seu principal opositor despencar vertiginosamente — mas não vamos nos ater a isso neste momento. Em outro texto trataremos disso.
O fato é que a popularidade do governo Lula pode influenciar o mandato do governador Jerônimo, dando-lhe a oportunidade de fortalecer sua imagem, arranhada pelos dados de segurança pública e educação. Pela lógica, tendo em vista as disposições atuais no tabuleiro político, é impensável para um estrategista como Zé Cocá abandonar o firme barco de Jerônimo para embarcar no sonho da oposição. “Política não se faz com o coração, se faz com o fígado.” A política é pragmática e exige muita frieza para não se deixar levar por sentimentos conflitantes.
Uma coisa é a gratidão que Cocá tem por João Leão e tudo o que o deputado já fez por ele em sua vida política. Outra é lembrar que ainda restam para Cocá três anos e alguns meses de mandato, e será necessário o aporte de investimentos do Governo do Estado para que ele possa completar seu projeto político para o município de Jequié. Esta é a visão de momento. Ainda há muito tempo para que a decisão seja tomada por Cocá, que, neste instante, é uma noiva a ser cortejada por vários pretendentes.
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